Quando o Emprego dos Sonhos se Torna o Maior Pesadelo

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Quem nunca passou por isso…  A felicidade e a motivação diária de ir trabalhar, de produzir, de estar com amigos e colegas de trabalho repentinamente mudar para um processo de esgotamento físico e psicológico.

Nestes meus quase 20 anos de profissão já vi isso acontecer algumas vezes com várias pessoas, por vários motivos e situações distintas.  Ultimamente percebo uma tendência muito grande deste tipo de acontecimento.  Recebo muitos emails de pessoas relatando situações de transtornos causados por mudanças repentinas na atmosfera corporativa.

Passei pessoalmente por isso algumas vezes.  Normalmente esta mudança repentina está associada à mudanças de gestão.  Chefes despreparados quando assumem seus novos times acham que mostrar trabalho é carregar uma foice e um tridente para aterrorizar os funcionários e acabar com o clima da empresa.

Tanto já vivi mudanças no clima da empresa por mudança de gestor como por mudança de comportamento do próprio gestor.

Em uma experiência aceitei fazer parte de um projeto.  Me encantei na entrevista.  O CEO da empresa foi absolutamente encantador, entusiasta, sincero e carismático.  Nossa, como fiquei feliz em receber a notícia de ser aceita por essa empresa.

Não estava errada, o projeto era novo, entraram comigo 10 gerentes para este projeto e os dois diretores que estavam na linha de frente tinham o poder de motivar e fazer a grande engrenagem se mover rapidamente.

Trabalhávamos num escritório virtual, tudo apertado, sem nenhum conforto.  Ficamos nesta situação por 3 meses, tempo necessário para nosso escritório ficar pronto.

Neste tempo fui promovida.  Mas, a primeira surpresa…  A promoção veio somente com acréscimo de função, não de salário. A proposta é que eu trabalhasse 3 meses para aí sim receber um acréscimo de valor.  E quando finalmente o valor veio…  :/ Mas, td bem…  O importante é que eu estava feliz e fazendo o que eu gostava, numa empresa que estava apostando muito.

Assumia então, além da pasta de marketing, a pasta de operações.  Nesta nova função cuidaria também da operação das nossas 5 unidades e das novas unidades que estavam sendo inauguradas, numa velocidade média de 2 por mês.  Em operação devemos ficar atentos o tempo todo, principalmente quando existe uma equipe na ponta que depende de seu suporte.  Ficava disponível para a minha equipe do momento da abertura até o fechamento de todas as unidades.  Preparava os lançamentos, desenhava o novo manual de operações e treinamento de equipe, ajustava padronização, contratava pessoas para as novas unidades, revisava todos os processos, redesenhava as estratégias comerciais, escopava o novo site de vendas, idealizava a maior campanha de marketing que a empresa teria (ok, ok, me orgulho muito deste projeto rsrsrsrs 300% da meta em 75% do tempo estimado para a campanha), gerenciava todos os processos operacionais e de marketing, trabalhava de 5 da manhã às 23h e estava absolutamente feliz.  Quase não dormia.  Ficava online inclusive sábados e domingos, pois a operação não parava, as demandas da minha equipe também não.

Nos mudamos para o nosso escritório definitivo.  Não foi só a mudança física que aconteceu.  O escritório era incrível, de frente para o mar, tudo novinho, super confortável. Porém, algo mudou a alma da empresa.  Mesmo estando confortáveis e sem o aperto do escritório virtual alguma coisa tinha transformado a gestão.

Um dos diretores (não sócio) saiu repentinamente, praticamente dias após a nossa mudança e comecei a perceber que o emprego de meus sonhos começava a se tornar o meu maior pesadelo.

O CEO, antes agradável, simpático, entusiasta, enloquente e motivador se tornou rancoroso, introspectivo, grosseiro.  Tinha perdido seu brilho e seu encanto. Palavras e mensagens grosseiras e ameaçadoras, humilhação, acareação, assédio…  esse era o dia a dia na empresa.  E era o dia todo assim.  Quando ele viajava e não ia… ui…. que alívio!

Virou piada interna entre os gerentes quando ele chamava na sala dele qualquer um de nós gerentes, um dava força para o outro dizendo: Ainda bem que é você e não eu…  Pois é…  Era duro…. Mas, tentávamos amenizar fazendo piada da nossa desgraça rsrsrs.

Passava mensagens de madrugada, ligava e exigia comprometimento quando ele entendia que era prioridade. Muitas vezes a prioridade eram assuntos completamente banais e sem um senso de urgência racional. Lembro de uma vez que ele me ligou às 23:50h para dizer que a quantidade de seguidores do facebook tinha caído repentinamente e que eu só podia desligar quando resolvesse.  Expliquei que o Facebook às vezes faz essa limpeza e que era normal, que não teria ingerência nisso, que poderíamos abrir uma ocorrência e aguardar o feedback, mas falando firmemente e de forma enfática ele dizia que não aceitava essa desculpa.  Finalmente às 2:40h, depois de esgotado todos os meus argumentos e de ter enviado mensagem até para o Mark Zuckerberg ele me deixou dormir.  Porém, meu sono foi interrompido novamente, desta vez por uma situação de emergência numa das unidades às 5h da manhã.  Às 9h a resenha recomeçou e assim foi evoluindo…

Aos poucos esse clima foi minando alguns funcionários que saíram por conta do comportamento desta pessoa, que na entrevista se mostrou tão maravilhosa.  Heads de 5 áreas saíram num prazo de 6 meses após a mudança de clima e a empresa tomou outro estilo de gestão, absolutamente autocrata, onde a criatividade e a produtividade deram espaço para o chicote e falta de energia.  O sorriso se esvaiu dos rostos dos funcionários e a motivação de ir trabalhar deu lugar aquele peso nos ombros de dez vampiros nos sugando.

Esse é apenas mais um caso clichê do dia a dia dos ambientes corporativos do Brasil.  Depois que escrevi o texto A incrível geração de gestores sem educação, onde citava a experiência (des)vivida por um amigo meu, recebi centenas de emails e mensagens relatando situações similares…

Infelizmente muitas pessoas ainda aturam esse pesadelo por falta de opção, pela falta de empregos que estamos passando nesta crise louca.  Em outras situações, quem seria o descartado seria o tomate podre que contaminou toda a cesta, não o contrário.

O maior problema é que essa situação compromete a saúde dos funcionários.  Uma empresa com esse tipo de clima tem funcionários com mais possibilidades de adoecer, aumenta as faltas e até mesmo o abandono de emprego, principalmente em níveis mais operacionais.  Sem obviamente falar da queda da produtividade.

Rezo para a economia dar um suspiro, rezo muito, de verdade, tipo uma reza forte!  Empresas que adotam esse tipo de gestão vão se engasgar com a falta que seus bons funcionários irá fazer.  Enquanto isso não acontece, vamos acreditar que tudo vai dar certo! Estejamos positivos!

Até a próxima! 😉

 

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5 comentários em “Quando o Emprego dos Sonhos se Torna o Maior Pesadelo

    Kelsen Athayde disse:
    20/10/2016 às 4:32 pm

    “O CEO, antes agradável, simpático, entusiasta, enloquente e motivador se tornou rancoroso, introspectivo, grosseiro. Tinha perdido seu brilho e seu encanto. Palavras e mensagens grosseiras e ameaçadoras, humilhação, acareação, assédio… esse era o dia a dia na empresa. E era o dia todo assim. Quando ele viajava e não ia… ui…. que alívio!” então Luciana, este trecho traduz o que foi o clima nas organizações nos ultimos anos nas grandes corporações brasileiras. Hoje não precisamos dizer mas nada esta tudo nas mídias, portanto a humildade, transparência, respeito e tudo mad que esta escrito no codigo de contuda vai voltar a valer, espero que sim!

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      Luciana Telles respondido:
      20/10/2016 às 4:53 pm

      É para isso que volto minhas orações… Estilo Tiririca, pior que tá, não fica! 😉

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    Mendes disse:
    21/10/2016 às 3:07 am

    Impressionada. De verdade, existem situações que acreditamos que só nós passamos, que a desmotivação, desgaste físico e mental é fruto de uma queda de profissionalismo nosso.

    Por meses me martirizei acreditando que isso era responsabilidade minha, se eu estava desmotivada a culpa era minha, que se só existe automotivação e que a motivação externa é balela, cada um só sente o que se permite sentir… Ledo engano de uma pessoa que vivia motivada pelo clima, projetos, possibilidades e oportunidades; quando tudo isso mudou (bem no período em que você citou) a contaminação de toda a operação foi imediata. Desde os gerentes, líderes e funcionários de unidade.

    Lembro a dor desses meses de sentir que o meu sonho, meu projeto perfeito estava gradativamente desconstruindo bem diante de mim.
    A busca pelas razões de tudo isso foi de toda a parte, não sabíamos onde estava o erro, de onde vinha aquele odor, só sabíamos que de alguma forma nos contaminava, e a saúde dos colaboradores depreciava.

    Motivação zero, incentivo zero, produtividade cada vez mais baixa, cobranças 100%, reclamações 100%, mente empirista. Nenhuma palavra, nenhuma promessa, nenhum conselho… nada, nada, nada funcionava com os funcionários, eles não entendiam por que nossas palavras eram tão bonitas, mas a experiencia deles era o inverso do que se dizia.

    Mudanças repentinas e imediatistas sem aviso prévio sempre movimentava as unidades.

    Lamento pelos bons perfil de profissionais que perdemos pela ausência de flexibilidades, valorização e reconhecimento. Foram muitos, mas como você disse: “Empresas que adotam esse tipo de gestão vão se engasgar com a falta que seus bons funcionários irá fazer”
    Sabemos que breve isso acontecerá.

    Gosto dos seus textos, da maneira em que consegue colocar em palavras os teus sentimentos. Repito: Lhe admiro! Infelizmente muitos associaram a ti o reflexo dessa gestão, mas sabemos que muito mais há por vir. Até lá, oramos…

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      Luciana Telles respondido:
      21/10/2016 às 12:53 pm

      Pois é… A coisa começou a ficar muito ruim quando acabou o RH. O setor não estava deixando que ele fizesse da forma que ele queria, infelizmente a corda estoura para o lado mais fraco. Lembro de uma acareação que ele nos fez e que me deixou absolutamente passada com a situação, as duas ficaram magoadas pela forma como ele fez. Absurdo! Ordens autocratas devendo ser passadas para a ponta, sem nenhuma ponderação, mudanças de regras repentinamente, limitação de headcount, corte de verba para integração de times e até a não concretização da festa de fim de ano (que foi a mim atribuída)… Enfim… Uma pena! Já te disse algumas vezes e repito, tenho muito orgulho da sua evolução. É incrível como vc continua numa curva ascendente de aprendizado. Acredito em vc e em seu potencial. Sei que ainda vai muito mais longe! Bjs

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    […] Depois que postei o texto no blog, além desta mensagem de ameaça, recebi emails, mensagens por diversos meios e ligações de pessoas que tanto participaram comigo da mesma situação descrita no meu texto, como pessoas que viveram a mesma história com personagens e cenários distintos, mas exatamente o mesmo enredo.  Todos diziam que retratei com precisão o que acontece  Quando o Emprego dos Sonhos se Torna o Maior Pesadelo […]

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