Filhos com Depressão. Como identificar e o que fazer?

É cada vez mais comum vermos jovens em depressão e ficamos pasmados quando lemos notícias frequentes de adolescentes que chegam a extremos de tirar suas próprias vidas.  Mas, afinal de contas, o que está acontecendo?

Lembro que, quando era adolescente, ouvia um ou outro caso de suicídio de adolescente.  Eu inclusive tive uma amiga de infância que, após anos lutando contra esquizofrenia, acabou se matando aos 17 anos… Ela vinha de um histórico de uma infância muito difícil, tendo sido adotada, mas as sequelas nunca a deixaram e acabaram por consumir todo o seu ser.  Apesar de chocante, ela vinha muito doente há muitos anos e seu estado piorava de tempos em tempos. Além desse caso, o que ouvíamos, eram casos isolados.

No Brasil, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), a taxa de crescimento de casos de suicídio na faixa etária de 10 a 14 anos aumentou 40% em dez anos e 33,5% entre adolescentes de 15 a 19 anos. Em média, dois adolescentes tiram a própria vida por dia.  Casos cada vez mais noticiado pela mídia pela comoção que causam.

Um adulto atentando contra a própria vida já é complexo de absorvermos, imagina uma criança…

É o tipo de coisa que a gente se sensibiliza com as notícias, mas acha que está meio imune aquilo. Que não vai acontecer com a gente. Mas isso me afetou.  Sim, estou convivendo há 3 meses com minha filha de 15 anos com depressão e pensamentos suicidas.

Devo confessar que minha primeira reação foi achar que era palhaçada de adolescente, talvez esse seja um erro muito comum dos pais.  Os adolescentes adoram uma manipulação melodramática e ter a percepção da tênue linha que separa a manipulação da doença é trabalho para profissional.

Resolvi escrever esse texto somente agora, pois minha filha resolveu externalizar para todo mundo o problema dela.  Antes eu estava tratando muito discretamente, somente com amigos e pessoas mais íntimas.  Há 4 dias, porém, ela resolveu sair do casulo.  Resolveu fazer todo o caminho para sair do labirinto mental que se encontra.  Um dos ganchos que ela tá usando é um canal no YouTube, onde pretende compartilhar um pouco do que está passando e como está lidando com a situação.

Canal de Yanne Beatriz Telles

 

Meu objetivo com esse texto é tentar ajudar aos pais que estão na minha situação porque sei que não é fácil.  Tenho vivido uma montanha russa de emoções diariamente.  Mas, é necessário que não deixemos a peteca cair e sejamos persistentes no objetivo final.

Os Gatilhos

Uma coisa é certa, não existe um motivo específico.  A depressão é um acúmulo de sentimentos mal tratados durante toda a nossa existência que, com eventos mais ou menos relevantes, podem encher um copo que já estava por transbordar.  Em geral, não é apenas um motivo e nem são, na maior parte das vezes, motivos recentes.

Obviamente, tem um ou um conjunto de eventos que desencadeia o processo de ansiedade/depressão.

No caso da minha filha, o gatilho desencadeador foi acontecendo em 6 meses, mas os motivos vêm desde a infância dela.

Na infância: a separação, o pai, a mudança para recife, bullyings, complexo de rejeição e etc.

Nos últimos 6 meses: namoro obsessivo, reprovação, mudança de escola, falta de adaptação à nova escola, afastamento dos amigos, briga com namorado e etc.

Sou sozinha com ela, trabalho muito, mas mesmo assim fui acompanhando a sua mudança e seu isolamento.  Isso ajudou muito na compreensão do quadro e pude correr para buscar ajuda profissional.

Recado importante para os Pais: Não adianta também achar que nós, como pais, somos culpados.  Não somos.  Às vezes, nossas escolhas podem ter originado certos gatilhos, ok… acontece…  Mas, não esqueçam que nunca deixamos de pensar no melhor para nossos filhos.  Filho não vem com manual de instrução, muito menos a vida.  Teremos decisões erradas e certas, eles também as terão.  Mesmo que neste primeiro momento de crise, eles os culpem por gatilhos, pelas suas decisões, não deixe que isso abale seu foco.

Nós somos responsáveis pelo que planejamos, precisamos dar conta até de solucionarmos possíveis problemas decorrentes disso.  Mas não dá para mudar o passado.  Independentemente do gatilho do seu filho, não se culpe.  Não conseguimos controlar o território da mente humana, principalmente o pensamento que reside em outra mente.  O que podemos fazer é, com paciência, demonstrar que todos os erros têm uma intenção positiva, ressalte esse ponto.  O que queríamos acertar quando eventualmente erramos.

Os Sintomas

Não são todos iguais, aqui ela foi se isolando dos amigos, deixando de sair, se machucando (automutilação – bem comum em adolescentes, segundo o psiquiatra), falta de sono, falta de interesse em estudo, falta de banho, namoro obsessivo/ciumento (tanto ela como ele), dores constantes de cabeça, enjoos, tonteiras e falta de ar.

Merece um destaque importante a automutilação.  Eu demorei de perceber pq ela passou a usar muita manga comprida.  Ela se cortava no braço.  O braço todo tinha marcas.  Ela hoje me diz que tem muitas amigas que se cortam na barriga e nas pernas para os pais não perceberem.  O psiquiatra me explicou como funciona essa história de automutilação.  Segundo ele, é similar ao processo de castração de um touro, quando coloca a argola no nariz do bicho para que ele deixe de sentir a dor da castração.  A dor interna que eles sentem, eles não conseguem tangibilizar.  É uma dor que incomoda, que doi internamente.  Quando se ferem, liberam um hormônio que deixam de sentir a dor interna, ficam concentrados na dor que eles dominam, a física.  Se sentem mais confortáveis sentindo algo que conseguem entender do que algo que não conseguem nem tangibilizar e nem explicar.

Agressividade e Comportamento

Aqui ela ficou muito agressiva e com comportamento absolutamente rebelde para o tratamento.  Foi muito difícil.  Fui no método da tentativa e erro.  Primeiro no grito, não deu certo!  Cheguei a arrombar a porta do quarto dela no desespero.  Chorava e me desesperava todos os dias.  Era exaustivo para mim e não estava ajudando em nada o processo. Depois, na paciência, que tive que buscar na minha fé, forças para mudar minha atitude perante esse desafio.  Rezava muito porque passei a viver no meu limite.

Passei a utilizar as técnicas de Coaching.  Conversando e tentando, através das ferramentas que uso em coachees, estabelecer a conexão que eu precisava para a confiança.  Me tornei cada vez mais próxima dela.  Passei a ser aquela que ela podia contar.  Dizia a ela que a entendia e que estava ali para lhe ajudar, dizia o tempo todo que ela era importante para mim.  O quanto que eu a amava.  Diariamente a abraçava muito, ressaltava todas as qualidades importantes dela.  Muitas vezes ela cagava para o que eu estava dizendo, mas com certeza estava sendo absorvido.  Não desistia.

O Tratamento

Tão logo identifiquei que o quadro era depressão porque ela não acordava para a escola por uma semana e não queria fazer nada.  Marquei o psiquiatra.  Ela foi com muito custo, foi uma luta, na verdade.  Ele receitou medicamento para a depressão e para regularizar o sono, já que ela passava 2 dias inteiros sem dormir com frequência.

Ele avisou que ela pioraria muito nos primeiros 15 dias de tratamento e que não poderia ficar só.  Minha irmã ia para Argentina e ia levá-la, só que o pai dela não autorizou a viagem (tenho a guarda, mas como ela é de menor precisa da autorização do progenitor).  Isso foi um canhão no tratamento.  Ela piorou muito a partir daí. Foi um caos administrar porque ela achava que eu tinha culpa, mas não havia tempo nem grana suficientes para acionarmos um advogado para autorizar a viagem sem a necessidade da autorização dele.

Infelizmente tive que contar com a sorte e com a proteção divina pois eu não podia deixar de trabalhar.

Por sorte, ela dormia o dia todo e só acordava no fim da tarde, quase na hora que eu chegava do trabalho.  Obviamente passei alguns sufocos, tendo que vir correndo do trabalho para casa quando ela entrava em crise no meio da tarde.

Tenho duas labradoras, de manhã eu sempre prendia as duas no quarto junto com minha filha para que elas tomassem conta dela.  As bichas passavam o dia td com ela.  Por isso que eu digo que cães são anjos disfarçados.  Dois animais que, em teoria, são super agitados, se adaptaram para ficarem o dia td num quarto velando o sono de uma adolescente.

Tivemos muitos altos e baixos no tratamento, aumentamos a dose do remedio 3x, tive sustos que eu não desejo para o pior dos homens.  O pior foi há 10 dias quando ela chegou a me pedir perdão e se despedir de mim.  Ou outro quando a Nutella (a Labradora de 9 meses) comeu a caixa de medicação dela.  Pelo menos meu coração tá bem.  É cada susto, que se ele tivesse algum problema eu já tinha enfartado.

Próximos Passos

Venho insistindo muito para que ela começasse a terapia.  Mas, ela não saía de casa e o psiquiatra disse que era melhor não insistir mesmo enquanto ela não estivesse preparada para voltar a sair.

Essa semana ela finalmente aceitou que eu marcasse um hipnólogo.  Acredito muito que a hipnose consegue atuar de forma mais assertiva no cerne do problema, agilizando o processo de cura.  Semana que vem ela já irá iniciar a terapia.

Ela terminou de vez o namoro obsessivo e conseguiu, com isso, voltar a falar com todos os amigos que ele não gostava que ela tivesse contato.  Essa semana ela já até saiu com vários destes amigos e acho que é um grande passo.  Os amigos são a família que a gente escolhe.

Eu abri mão de tudo o que eu podia para ficar próxima dela.  Deixei de sair, me divertir, fazer minhas atividades terapeuticas e passei a sair o mais cedo possível do trabalho nestes últimos meses.  Agora, aos poucos, pretendo ir retomando minhas atividades porque não tem sido fácil para mim também.

Foco e fé e vamos caminhando!

 

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Publicado por Luciana Telles

Apaixonada por internet, tecnologia e negócios. Mãe, mulher e profissional. Positiva, entusiasta e feliz!

2 comentários em “Filhos com Depressão. Como identificar e o que fazer?

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