Primeiramente, é bom elucidar que esta é uma opinião pessoal, fruto de vivência de 2 casamentos e mais alguns relacionamentos, além de relatos de amigos próximos, exposições públicas e observações feitas ao longo de minha vida… Assim sendo, não tem a obrigação de carregar a verdade absoluta e universal, mas é a minha verdade.
Há alguns anos, escrevi um texto que acho muito pertinente para começar essa minha resenha. Quando escrevi o texto A Fábula dos Barcos e os Remos, eu estava no fim do meu segundo casamento. Ainda faltava tantas coisas a serem vividas por mim! Mas continuo achando que os barcos e os remos fazem muito sentido na caminhada do casal, talvez sendo a referência da comunicação e do poder de resolução dos dois, da vontade de fazer dar certo.
Posso dizer com toda certeza, que esses meus 6 anos de separada foram riquíssimos em termos relacionais. Vivi quase tudo um pouco. Queimei até a língua fazendo coisas que jurei que nunca faria…
Tem coisas que ainda não consigo entender: Como nosso racional pode duelar tanto com nosso emocional quando o assunto é amor/paixão/tesão? Mas isso é um outro texto… Tem muitos assuntos que ainda circundam minha mente e que precisarei por para fora ainda. Escrever é minha terapia…
“Pozé”, querido leitor! Entramos em certas armadilhas desse oceano chamado amor.
Acho que a internet vem contribuindo significativamente para a efemeridade das relações, sempre muitas opções, tentações e as pessoas muitas vezes acham muito mais fácil trocar do que insistir e corrigir a rota dos barquinhos do meu texto A Fábula dos Barcos e os Remos…
Mas, antes dos barquinhos, acho que se relacionar, ou experimentar ter um relacionamento com alguém, precisamos ter certeza que esse alguém corresponde aos nossos anseios. Uma coisa é se relacionar aos 20 anos de idade, quando a falta de experiência faz seu sarrafo ficar bem abaixo do ideal. Outra coisa é se relacionar depois de um casamento, de filhos, de criar massa crítica, de se tornar independente emocional e financeiramente… O sarrafo sobe tanto…
Bom, em termos de metáfora, que amo fazer a todo momento, o relacionamento é como uma cadeira. As cadeiras têm os pés para ficar de pé, o assento para sustentar o casal e tudo o que soma e o encosto para dar conforto e acabamento à peça.
Com a mesma certeza que tenho de que meus 6 últimos anos foram um Doutorado de Relações Amorosas, entendi o porquê de eu não ter tido uma outra relação que eu pudesse chamar de “casamento”. Não encontrei ninguém que valesse a pena construir essa cadeira! Acaba que sempre falta um pedaço e sem ela estar completa, nem me arrisco!

Os 4 pés da cadeira são o que a mantém em pé, sem os quais, ela simplesmente não resiste, nem existe e nem seria uma cadeira, não seria um casamento. Os pés seriam:
==> Respeito: que é primordial em qualquer relação, num casamento então… O respeito é prenuncio da fidelidade e da cumplicidade. Se falta respeito, falta a unidade do casal, falta tudo. Trair já é péssimo, imagina desrespeitar alguém que você prometeu lealdade… Os mafiosos costumam dizer que nunca traem suas esposas, pois seria o cúmulo da falta de noção trair alguém com quem se divide a cama. Concordo. Para mim é uma ida sem volta. Quem trai uma, trai várias vezes.
==> Admiração: tem uma frase que gosto muito: “Esteja com quem admira seu voo”. Não consigo imaginar como as pessoas mantém casamentos com companheiros que só criticam, com pessoas que não sejam fãs incondicionais. Ter como seu principal fã e entusiasta aquele que divide a vida com você é certeza de planejar um futuro próspero e com muitas conquistas. Quando você não acredita e não se impressiona com sua cara metade, você se reduz também. É um atrofiamento. Se você admira o voo de alguém, é natural que você se esforce para voar junto, aí está o segredo do sucesso dos casais que crescem juntos.
==> Carinho: O Carinho no sentido do cuidado, do zelo, da atenção. Vejo casais que não fazem questão de estar juntos nos momentos de dor, de doença, que não vibram com as pequenas vitórias e nem tampouco se preocupam quando há percalços no caminho do outro, que não se deitam juntos, que não abrem assistem TV juntos, que não dividem espaços, que transformam suas residências em labirintos infindos. Carinho é toque, é preocupação, é presente, é surpresa. É comprar um doce gostoso e surpreender para o lanche da tarde. É presentear sem ter data, é sentir cheiro, observar mudanças, se atentar para o que faz o outro bem e feliz. É encher o tanque do amor com combustível e não deixar nunca entrar na reserva…
==> Sexo: primeiramente, sexo é saúde, é intimidade, é dar e receber prazer, troca de energia, de fluido. Não há mais unidade que isso! O momento onde os dois se tornam um. Um casal que não se entende sexualmente não existe. São amigos, colegas, mas não são casal. Não preciso ser aqui a tia Teteca e ensinar as diversas formas de intimidade possível para contra-argumentar os queixumes de porquês da falta de sexo. Se não tem vontade, não tem prazer ou não consegue por qualquer motivo, busque ajuda médica pois o sexo ajuda a nos manter vivos. A conexão sexual é primordial. Já terminei com pessoas que atendiam todas as outras questões e que não me satisfazia sexualmente, obviamente não levei para frente. SEXO É VIDA, dá vida e recicla a vida. Ativa a circulação, dilata os poros, expande os pulmões… é um processo lindo de explosão de vida na mais complexa visão.
O assento é o que sustenta a pressão externa, as dúvidas, os senões, o que dá base ao casal, segura os filhos, os agregados… O que dirime a força contrária e o peso de dolos que se apoiam na cadeira… Na nossa metáfora, a Comunicação. Comunicar, conversar, dialogar… Casais absolutamente entrosados se comunicam até no olhar. A comunicação é ampla e compreende a verbal (obviamente!) e a não verbal, muito comum quando as mulheres estão brabas e batem panelas… quem nunca!!! Identificar, comunicar, entender, resolver e tratar são diretamente relacionados a esse nosso “assento”, a sustentação. Um casal que se comunica brigando, na ameaça, na dúvida, nos questionamentos e no abuso tóxico dos diálogos violentos, não se comunica! Não existe o assento para essa cadeira e portanto, tudo vai ruir.
Por fim, o que nos faz relaxar, a Confiança. Quando confiamos, nos recostamos e absolutamente ficamos confortáveis com o que nos é oferecido. É o acabamento perfeito da cadeira, o fechamento do invólucro chamado CASAMENTO. Eu confio e recosto, me apoio, me sinto absolutamente deleitada naquela cadeira que me transmite conforto. É como um guarda-corpo! Você não se debruça numa varanda cujo guarda-corpo não gere confiança absoluta da sustentação de todo o peso. Para que se recostar numa cadeira que você tem certeza que vai te fazer cair no chão!? Na dúvida, não confie, não se entregue!
Sim, casar é construir uma cadeira. É ter certeza que essa cadeira é forte, robusta e segura o suficiente para sustentar o que precisar se sentar nela, sejam filhos, dívidas, problemas… Tudo tem que se manter e se resolver nesta cadeira.
Voltando à minha análise de situações do dia-a-dia: Um casal que já começa na desconfiança de traição, que a mulher engravida para forçar a união, que tem pensamentos desrespeitosos acerca da fé, crença ou da família do outro, que escondem ou omitem questões importantes sobre si, que não conversam sobre tudo, que não tem uma parceria absoluta na cama, que não se orgulham sobre as conquistas do outro e que não participam dos problemas um do outro, NÃO SERÁ NUNCA UMA CADEIRA DURÁVEL. Vai cair e machucar quem estiver em cima em pouco tempo.
E por que os casamentos não duram, não dão certo? Porque lhes falta a construção sustentável desta cadeira.
Não adianta culpar eventos externos, a chuva, o chão, a decoração…
Se a cadeira é forte, ela resiste!
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