The Girlie Show da Madonna e minha mega aventura de ir para o show doente

Recentemente, foi anunciado que Madonna voltará ao Brasil depois de 31 anos.

A princípio, o show de 2024 será gratuito na praia de Copacabana. Fico bem dividida. Hoje a Madonna não faz mais tanto sentido para mim no que ela se tornou e os caminhos que segui. Mas ela fez parte do que eu sou, porque foi a minha motivação por muitos anos da minha adolescência.

Caramba! Tem 31 anos que passei por uma aventura incrível de ir para o The Girlie Show doente!

Segue que tem história…

Bom, informação mega importante: Aos 11 anos, decidi começar a estudar inglês com o objetivo de cantar “Like a Virgin” como a Madonna.

Sim! Esse era o objetivo inocente.

E levei isso muito a sério. Passava as minhas férias fazendo curso de verão e ainda fazia todas as extensões que o CCAA oferecia, como curso de música e redação, literatura e gramática.

Amava estudar inglês.

Em 1993 era meu último ano e seria a aluna mais nova a concluir o curso todo do CCAA e seria a aluna mais nova a entrar para o TTC (teacher’s training course).

Mas, como nem tudo sai como o planejado, nas férias de julho, adolescente de 16 anos, dei uns beijos errados e acabei pegando Mononucleose. Tá vendo, desde adolescente eu dou beijos em pessoas erradas kkkkkk

Mas não foi uma mononucleose simples. Eu tive inflamação em absolutamente todos os órgãos do corpo, até na meninge (meningite), no nervo ótico, pancreatite, hepatite e mais todos os ites possíveis e imaginários.

Minha família tinha o médico da família e a recomendação dele foi muito direta: “Se essa menina for para o hospital, ela morre!”.

Como meu pai é da área médica, ele montou quase que uma UTI na minha casa. Eu fiquei muito mal por quase 2 meses (agosto e setembro).

Perdi aula, prova, achava todo dia que ia morrer…

Óbvio que quando voltei para a escola, 2 meses e meio depois do diagnóstico, tive que correr atrás do prejuízo e não pude ir para o último período do curso de inglês, o famoso AD13 (advanced 13) naquele semestre.

Isso acabou comigo. Mas também tinha muita matéria da escola para por em dia. Lembrando que como tive inflamação no nervo ótico, nem estudar eu podia durante o tempo que estava doente, pois poderia ficar cega. Ou seja, era muita coisa para por em dia!

Assim que tive alta, foi anunciado a The Girlie Show tour no Brasil.

Seria em novembro e minha esperança era que eu estaria já 100% para ir.

Meu pai entendeu a minha necessidade e fui com meu amigo gay (a melhor coisa para uma adolescente com autoestima baixa é ter uma amigo gay!) e compramos nossos ingressos lá no Rio Sul. O show seria em novembro e comprei no primeiro fim de semana que abriu as vendas!

A ansiedade da espera do show só não me corroeu mais porque tinha tanto que estudar dos 2 meses que fiquei “out”.

O show era no sábado, dia 06 de novembro de 1993, à noite, no Maracanã.

Na quinta anterior ao show, estava no colégio e uma amiga me perguntou se eu tinha comido camarão, chocolate ou qualquer coisa que pudesse me dar alergia. Ao que respondi que não, ela falou para eu correr para o posto médico pq eu estava toda empolada.

Devido à gravidade da Mononucleose que tive, muita gente sabia, inclusive no posto médico do colégio. Ligaram para meu pai, que me buscou e me levou imediatamente para o médico da família.

Não precisou nem de exame! Eu estava aos prantos recebendo o diagnóstico de Rubéola a 2 dias do show da minha vida!

Todo mundo sensibilizado com a minha crise na clínica.

Gente, eu estudei inglês desde 11 anos e aquele show seria para coroar todas as férias que passei estudando inglês e me dediquei. Não era justo eu não ir no show.

Dr Fernando… consigo fechar os olhos e lembrar das feições de bonachão que ele tinha, barbudo com bochechas rosadas. Cabelo grisalho, um Papai Noele mais jovem, cerca de 55 anos.

Ele vendo meu desespero e acredito até que se compadecendo da minha dor, disse que eu poderia ir com algumas condições:

– se eu não tivesse febre

– eu precisaria levar um farnel para me alimentar e hidratar durante o show (naquela época podia entrar com garrafas e comidas em shows)

Óbvio que deu febre, mas eu colocava gelo nas axilas para meu pai não notar quando aferia minha temperatura.

Deu certo e 8:30 da manhã de sábado, estava montando minha mochila de acampamento para o show: uma garrafa de 2 litros de água que estava congelada, outra de 2 litros com mate, sanduíches, paizinhos, biscoitos, chocolate e etc. Era um pesinho considerável, mas quem liga? Eu ia ver a Madonna!

Não precisa nem dizer que eu era uma adolescente gordinha…

Infelizmente eu tenho registro zero de fotos deste dia, mas minha retinas gravaram cada momento.

Meu pai deixou a mim e ao Bruno (meu amigo gay) na porta do Maracanã umas 11:30 da manhã .

Também nesta época, não tinha essa neurose de ficar na fila de show por dias não… isso é coisa de adolescente de uns anos para cá…

Ficamos naquele calor e umas 15:30 o portão abriu e eu corri e entrei. Logo em seguida, o portão foi fechado. Tipo, acho que abriram na hora errada mesmo…

Meu amigo não entrou!

Pensei: fudeu!!!!!

Como eu doente, minha pressão era bem baixa normalmente, imagina com rubéola.

Mas logo que entrei, percebi que ela, a incrível, a maravilhosa, a diva divina luz da minha vida naquela época estava no palco passando o som.

Corri para perto do palco e vi até os pés de galinha dela. Naquela época ela tinha rugas, hoje em dia ela está mais nova do que há 31 anos…

Fiz amizades quando a passagem de som acabou e expliquei a minha situação para as meninas. Mas pensei melhor e resolvi usar meus poderes de bruxa e localizar meu amigo.

Sim! Me concentrei ao máximo e pedi para todos os Santos que protegem os adolescentes rebeldes para me ajudarem…

Por incrível que pareça, achei meu amigo dentro de um Maracanã lotado.

Combinei uma coisa com ele: Se eu desmaiasse, ele me daria tapa na cara, jogaria água (que estava na mochila), mate ou desse o jeito dele, mas não deixasse me levar para o posto médico!

O show começou praticamente pontual. Minha sorte! A minha resistência estava diminuindo rapidamente e na terceira ou quarta música, quando ouvi… Holiday, celebrate! Take some time to …

Desmaiei!

Meu amigo me deu uns tapas na cara e jogou água em mim e eu acordei na adrenalina.

Não disse que amigos gays são os melhores!!!!!

Consegui assistir até o fim, em êxtase! Absolutamente a pessoa mais feliz do Maracanã!

Nem a rubéola me segurou!

Se a mononucleose não me matou, não seriam algumas brotoejas que o fariam…

No verão seguinte, em janeiro, fiz meu último período do curso de inglês e ainda me tornei a aluna mais nova a ingressar no TTC.

Por muitos anos, Like a Virgin foi minha música preferida nos Karaokês da vida…

Será que terei coragem de ir no show de 2024 e fechar o ciclo de 31 anos?


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Publicado por Luciana Telles

Apaixonada por internet, tecnologia e negócios. Mãe, mulher e profissional. Positiva, entusiasta e feliz!

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