Julgamento e Culpa

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Hoje me lembrei muito de uma amiga muito querida. Nunca nos vimos pessoalmente, mas nos falávamos diariamente durante quase 2 anos. Era engraçado, pois ela trabalhou nos mesmos lugares que eu, em épocas diferentes. Ouvia falar de mim, até que me substituiu diretamente em uma função num Banco. Por tanto que meus pares falavam de mim e pelo legado de coisas que eu tinha deixado, um dia ela me adicionou na rede social. Queria inicialmente trocar experiências profissionais, mas começou naquele dia uma amizade virtual super forte, muito além do que imaginávamos.

Nestes dois anos que nossa amizade durou, ela passou por vários problemas, um atrás do outro. Primeiro foi a separação dela, em seguida o irmão, que era do BOPE, foi assassinado numa missão. 2 meses depois a tia descobriu que estava com câncer, faleceu em 2 meses, no mesmo momento que a mãe descobriu que estava com o mesmo tipo de doença, foi levada tão rapidamente quanto a tia. Um alívio veio semanas depois, a notícia de uma gravidez, mas a boa nova se tornou dor logo logo, pois ela também perdeu o bebê.

A cuca pifou, ela não aguentou. Tudo junto. Quem aguentaria???? Se Entristeceu, deprimiu, sofreu. Se fechou em copas, precisou de ajuda médica. Aos poucos se recuperou. Viajou por 6 meses para esquecer, foi ser chique na Suiça, voltou sorrindo, quase me convencendo que estava feliz. Mas…

“Tudo o que você precisa é de um lindo sorriso para esconder sua alma machucada. Assim, ninguém vai perceber o quão mal você está.” – Robin Williams (1951-2014).

Eu sabia que não estava tudo ok. Nossas conversas eram intermináveis. Mas, um dia de cada vez, ela ia voltando. Um dia ela me ligou chorando, precisava de uma advogada. Tinha sido afastada de sua filha numa atitude vil e covarde de seu ex-marido. A Alegação? Que uma pessoa deprimida não teria condições de cuidar de uma criança. Mas ela só queria visitar! Ela sabia que precisava ainda de tempo para se recuperar. Esse direito lhe foi negado. Ele não queria deixar que ela visse a menina até que o médico lhe desse alta. Mas minha gente, depressão não é um botão de liga e desliga. Quanto mais a gente está na areia movediça, mais difícil de sair dela. E a areia movediça que a consumia, era muito densa, ela ia precisar de tempo para sair completamente limpa daquela armadilha do destino.

Consegui a advogada e liguei de volta. Era uma quinta antes do carnaval e Cris não me atendeu. Julguei que ela já havia viajado para tentar amenizar a dor dela, curtir o carnaval. Julguei!

O carnaval passou. Eu deixei recado malcriado pelo skype, pelo orkut, pelo face, pelo twitter, celular…

Julguei que ela estivesse com problemas comigo (!!!) ou que talvez ainda estivesse embalada com o pós carnaval… Novamente eu julguei!

Dias depois eu dirigia para um cliente, meu caminho foi interrompido por uma notificação no celular. Era do facebook. A irmã da Cristiane avisando que ela tinha tirado a sua vida na quarta feira de cinzas. Encostei o carro e não consegui mais dirigir. Travei na entrada da ponte Rio-Niteroi, sem forças para continuar. Lembro que algum funcionário meu foi me ajudar e me levou em casa. Não lembro direito. De repente, tudo ficou cinza para mim.

Cara, como eu chorei! Chorei muito! Como a culpa me invadiu. Como eu não pude interpretar que ela precisava de mais ajuda que eu consegui dar? Como eu pude deixar que isso acontecesse? Pior, como eu pude julgar!!!!!!!!

A culpa me consumiu por um bom tempo. Até hoje, na verdade. Durante quase 2 anos eu sempre enviava mensagens para ela pelas redes sociais. Dizia que sentia falta dela, que ela tinha sido uma palhaça por ter feito o que fez. Tentava, em vão, convencê-la que eu estava ali para oferecer toda a ajuda possível. Mas ela não me escutava mais.

Ela se foi em Março de 2011. Desde então, duas coisas me fazem muito mal: Julgar e ser julgada.

NÃO JULGUE!

Ninguém jamais saberá integralmente os seus problemas. Ninguém vive a sua vida, não habita na sua cabeça e nem sabe quais foram as experiências que te trouxeram até aquele ponto.

Muitas pessoas se afastam desnecessariamente de pessoas queridas por julgamentos errados. Julgamentos que magoam e que muitas vezes são frutos de uma imaginação nada gentil acerca do próximo.

Ta com dúvida, pergunte. Ta com problema, exponha. Tem alguém precisando de ajuda, se entregue.

A vida já é uma bosta. Se a gente não faz por onde levar algo bom para o próximo, onde vamos parar? No esgoto????

Ou será que viveremos de culpas que não teremos mais como resgatar, entrando num ciclo vicioso de dor e arrependimentos, que nos entristecerão e nos levarão a dores tão grandes que nosso peito um dia poderá não mais aguentar.

Cris, hoje eu precisava de você. Ia te ligar e íamos chorar e rir por horas como fazíamos sempre. Espero que você esteja bem. Miss you, dear. ❤

 

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5 comentários em “Julgamento e Culpa

    Angeela disse:
    10/05/2018 às 12:56 am

    Como sempre trus textos mexem comigo, porém, este em especial me emocionou
    Obrigada por compartilhar tão sinceras palavras..

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    wilsonhiga disse:
    14/05/2018 às 10:28 pm

    Excelente texto! Parabéns por compartilhar suas idéias e sentimentos! 🙂

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    […] assim que eu vejo a depressão). Em outro post eu já contei que perdi uma amiga para a depressão (Julgamento e Culpa). Não quero isso para ninguém próximo, muito menos para […]

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